As vezes, os sonhos nos assombram, se parecem com o nosso pior pesadelo. Está frio, meu micro ligado, e estou sozinha em casa, no meu castelo, sem cavaleiros, sem voz e sem vida. Enfurnada em meus pensamentos, no enfado de minha solidão. Minha solidão, minha tristeza, meu abandono... nada é mais triste do que isso. Sou Imortal, mas infeliz, e nada do que eu disser aqui vai mudar minha condição de morta-viva; nada trará de volta a vantagem do morrer em paz. Quero descançar dos meus sonhos, de minha dor, do meu corpo, de minha tormenta.
Lembro-me do calor de quando Calista me amaldiçou, sugando-me por dias e noites naquela maravilhosa cidade do Cairo...e me trouxe de volta em seu caixão. Quando, enfim, pude sair de lá, a infelicidade ja tinha tomado conta de mim. Viver eternamente a principio me pareceu bom ,mas depois da farra e da orgia iniciais, tudo era a solidão que acabou por se aninhar em meu peito. Literalmente, eu devorava os homens. Eu não conhecia e ainda não consegui assimilar o significado de compaixão. Eu estou morta e, ao mesmo tempo, estou viva; meu peito e meu pulso não pulsam ; meu sangue não tem vida e meu olhar não tem mais brilho . Meus cabelos, meu corpo e meu mundo são o doce veneno das minha vitimas. Eu sou a morte eterna, doce e malvada. Eu adoro o mundo fugidio de minha vida covarde - só tiro a vida de entregadores de pizza e vendedoras da Avon ou Natura, afinal, para que serve preservar a beleza que, inevitávelmente, se esvai dia após dia!? Dou a todos um funeral digno. Acabo por fazer muitos enterros fingindo ser uma boa ação! Eu sou podre e irreversivelmente má! Não corra porque eu te mordo, não grite porque eu te mato!!!
